Caravaneira conta sobre a experiência de colocar-se a serviço do outro

Recém chegada do Malawi, a empresária Raquelle Braz, de Natal (RN), realiza a sua terceira caravana para a África, coordenada pela Fraternidade Sem Fronteiras. Chega, mais uma vez, com a certeza de que “sempre recebemos muito mais do que doamos”

 

Por Flávio Resende*

Encontrar na caridade um caminho que faça sentido em sua jornada tem sido, nos últimos anos, a escolha da empresária gaúcha Raquelle Braz, que vem desenvolvendo um trabalho, com um grupo de voluntários de Natal (RN) – cidade onde mora há mais de 25 anos -, voltado para a população em situação de rua.

Aos 46 anos, viúva e mãe de Francesco (“o filho único com o maior números de irmãos”, descreve-se o próprio Francesco), Raquelle é acolhedora, amiga, impulsiva, protetora e muito, muito verdadeira. “Um ser humano em constante construção, aprendendo diariamente o ‘amai-vos uns aos outros como Eu vos amei’”, como ela mesmo se auto descreve, já emendando: “O que não é uma missão fácil. Mas tentando sempre viver o “evangelho na veia”, como ensina sabiamente o presidente da Fraternidade Sem Fronteiras (FSF), Wagner Moura”.

A loira de cabelos esvoaçantes e voz alta acaba de voltar de sua terceira caravana organizada pela FSF. Desta vez, para o Malawi, país africano onde a organização humanitária mantém, desde 2018, o projeto Nação Ubuntu. O grupo partiu no dia 8 de março e voltou dia 21 do mesmo mês, depois da viagem ter sido cancelada por duas vezes por conta da pandemia.

“Conheci a FSF em 2019, numa pesquisa pelo Google. Quando finalizei a leitura dos projetos, já estava com hotel e passagens reservadas para o 3º Encontro da FSF, realizado em BH. Lá foi onde tudo começou. Senti o amor me transbordar e, em junho, já estava em Moçambique, vivendo minha primeira e inesquecível experiência. Pensei que tivesse visto tudo de mais duro e mais belo até chegar em Madagascar, em setembro daquele mesmo ano. Vi de perto, em ambos, uma miséria que desnuda nossa alma e, ao mesmo tempo, uma fé e resiliência que estamos anos luz de alcançar”, resume.

A voluntária conta que esta experiência – diferentemente das duas primeiras, onde as pessoas já nascem em situação de pobreza, aceitam com resignação os desígnios de Deus e, curiosamente, convivem com uma taxa de suicídio que beira à zero – no Malawi, dentro do campo de refugiados, é completamente diferente. Isso porque quem vive lá são pessoas que fugiram de guerras em seus países de origem, além de grandes conflitos pelo poder de terras. “Conhecemos muita gente, na caravana, que viu atrocidades sendo cometidas com suas famílias, deixando pra trás casa, trabalho e a própria identidade para apenas sobreviver. Há também quem já tenha perdido, por completo, a perspectiva de futuro, chegando a querer pôr fim à própria vida”, relata, perplexa.

Para este povo sofrido, o projeto da Nação Ubuntu representa, portanto, a  única esperança disponível. “Fiquei realmente surpresa positivamente com o trabalho que vi acontecer lá. Fomos em uma Caravana Emergencial de Saúde, onde foi possível realizar mais de 1.200 atendimentos a pessoas que estavam realmente em graves situações de saúde”, enumera a empresária.

Segundo ela, o que mais marcou foi o sentimento que viu nos rostos de todos aqueles que tiveram suas queixas ouvidas e resolvidas, mesmo com soluções paliativas: o de gratidão!

Raquelle descreve que o trabalho da FSF desenvolvido no Malawi é guiado por Jesus, pois, mesmo com recursos ainda limitados, é feita muita coisa. “As crianças tem escola, uniformes, alimentação, diversão e, o mais importante, esperança. Tudo em estruturas feitas com muito amor. Vi também o verde das plantações, cenário diferente das duas primeiras caravanas. Ouvi o coral que hoje acolhe mais de 100 pessoas em ação, enchendo nossos corações de emoção. Presenciei, de perto, as ações do projeto Mães do Campo, que acolhe 115 mulheres que vendiam seus corpos em troca de comida para seus filhos. E no período em que estávamos lá, foram acolhidas mais 70 mães”, afirma, lembrando que elas trabalham na lavoura, plantando alimentos que posteriormente são servidos e distribuídos entre todos que são acolhidos pelo projeto.

A madrinha da FSF descreve a experiência de colocar-se a serviço do outro como a busca de mais uma dose do remédio para a alma, frase que escutou do dentista Marco De Luca, na caravana que fizeram, também juntos, para Madagascar, em 2019. “É inenarrável o sentimento de troca, mas acreditem: nós sempre recebemos muito mais do que doamos”, pontua.

A caravana da paz, como o grupo descreveu a experiência, foi composta de 15 pessoas, entre médicos pediatras, psiquiatras, cardiologistas, ginecologistas, clínicos gerais e dentista. “Levamos na bagagem todo medicamento possível. Como não sou da área da saúde, me dividi entre a organização da farmácia, atendente de ginecologia e pediatria”, descreve a empresária.

“Estava muito ansiosa para esta viagem, pois, desde 2020, estava inscrita, mas como tudo acontece exatamente no tempo de Deus, aqui não foi diferente. Em novembro de 2019, iniciei um trabalho voluntário com pessoas em situação de rua na minha cidade (Natal –RN) e, durante a pandemia, dei continuidade até os dias de hoje. Esse trabalho é também muito desafiador e confesso que estava precisando repor minhas energias. Estava já sem forças para seguir adiante. Aí fui presenteada com “mais uma dose do remedinho” capaz de resignificar o nosso olhar e abastecer o nosso coração. Agora, pretendo seguir meu propósito, com a gratidão por mais essa oportunidade”, conta.

Para saber mais sobre as caravanas da Fraternidade Sem Fronteiras, acesse o site: www.fraternidadesemfornteiras.org.br.

 

*Jornalista voluntário da Rede de Assessorias de Comunicação da Fraternidade Sem Fronteiras.

 

 

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