Γ‰ importante destacar vida de pessoas pretas na periferia, diz artista

Jeff Alan mostra trabalhos no Centro Cultural da Caixa, no Rio

A comunidade Barro, zona oeste de Recife, Pernambuco, Γ© o berΓ§o de tudo. Ali, Jefferson Alan Mendes Ferreira da Silva nasceu, cresceu e, como promete, vai ficar para sempre. LΓ‘ tambΓ©m, aos quatro anos, jΓ‘ fazia os primeiros desenhos. Pouco tempo depois, a inspiraΓ§Γ£o deixou de ser os desenhos vistos na televisΓ£o que reproduziam, por exemplo, oΒ PokΓ©mon, passando a ser os amigos, pessoas das quebradas e das comunidades retratados nas suas telas.

Assim surgiu o artista plΓ‘stico Jeff Alan, autor das 40 obras que compΓ΅em a mostraΒ Comigo NinguΓ©m Pode – A Pintura de Jeff Alan, no Centro Cultural da Caixa, no Passeio, regiΓ£o central do Rio de Janeiro, com entrada gratuita. Aberta de terΓ§a a sΓ‘bado, das 10h Γ s 20h, e aos domingos e feriados, das 11h Γ s 18h. A exposiΓ§Γ£o conta com legendas em braile eΒ QR codeΒ com a audiodescriΓ§Γ£o das peΓ§as.

Antes de chegar ao Rio, a mostra esteve por pouco mais de dois meses no Centro Cultural da Caixa, no Recife, onde foi vista por 85 mil pessoas. A primeira apresentaΓ§Γ£o dos trabalhos foi na Casa EstaΓ§Γ£o da Luz, em Olinda, centro cultural do cantor e compositor Alceu ValenΓ§a.

A mΓ£e, a manicure Lucilene, de 53 anos, foi a grande incentivadora e ainda hoje Jeff pede opiniΓ΅es dela quando estΓ‘ criando uma obra. β€œMinha mΓ£e sempre foi uma inspiraΓ§Γ£o para mim, nΓ£o sΓ³ artΓ­stica, mas de ser humano mesmo”, revela. No inΓ­cio os trabalhos eram em preto e branco. NΓ£o era apenas uma tendΓͺncia. Jeff nΓ£o sabia, mas era daltΓ΄nico.

A descoberta foi aos 20 e poucos anos, quando, segundo ele, β€œpagou alguns micos”. Na faculdade tinha feito um quadro com fundo rosa, que descreveu como vermelho. Os colegas apontaram que estava trocando as cores. Fez alguns testes e comprovou que tinha daltonismo.

Embora tenha comeΓ§ado com o preto e branco, jΓ‘ estava trabalhando com cores antes de saber que era daltΓ΄nico. Jeff conta que costuma confundir o azul com verde, o verde com marrom ou cinza, laranja claro e rosa com vermelho. As trocas dependem das cores prΓ³ximas. Nada disso Γ© problema para o pintor. β€œA descoberta foi pagando alguns micos e algumas cores eu jΓ‘ tinha decorado. Tenho a minha paleta de trabalho reduzida, entΓ£o, para mim foi tranquilo”, destaca.

As cores dos fundos das obras determinam a mensagem que o artista quer passar. O azul Γ© o sonho, o vermelho a coragem e o amarelo o ouro, a conquista de um lugar. O nome da exposiΓ§Γ£o que tem entrada grΓ‘tis Γ© uma referΓͺncia tambΓ©m Γ  plantaΒ Comigo ninguΓ©m pode, que o artista via em muitas ruas do Barro.

Em entrevista para aΒ AgΓͺncia Brasil, Jeff Alan comentou as caracterΓ­sticas do seu trabalho, a vontade de destacar pessoas da periferia e reforΓ§ar o viver do povo preto.

β€œEu quero elevar a auto estima do meu povo, quero ver a juventude vivendo os seus sonhos. Esse trabalho vem aqui para denunciar, reafirmar, reivindicar e para dizer que este espaΓ§o aqui Γ© nosso. A gente nΓ£o quer sΓ³ ocupar, a gente quer estar. Muita gente fala em ocupar. Ocupar para mim Γ© uma coisa temporΓ‘ria. A gente quer fazer parte do corpo. A gente quer gerir. A gente tambΓ©m quer ditar as regras do jogo”.

Origem

β€œA exposiΓ§Γ£oΒ Comigo NinguΓ©m PodeΒ surgiu no bairro do Barro, zona oeste do Recife, periferia na esquina do Bar do Beco, do meu tio AlbΓ©rico Mendes da Silva, que faleceu hΓ‘ dois anos. O tΓ­tulo Γ© uma forma de trazer o meu tio, uma homenagem e tambΓ©m uma reafirmaΓ§Γ£o dos fazeres do povo preto. Saber que com a gente ninguΓ©m pode. A exposiΓ§Γ£o fala sobre coragem, muita luta, sobre sonhos, sobre o caminho da escola, sobre o caminho vermelho, esse desejo de descobrir o caminho azul. Costumo dizer que o vermelho Γ© a cor de coragem e o azul de sonhos”, enfatiza o artista.

Comigo NinguΓ©m Pode

β€œEm todas as ruas do meu bairro vai ter uma casa que tem [a planta]Β comigo ninguΓ©m podeΒ e lΓ‘ em Olinda fizemos instalaΓ§Γ΅es com a planta natural, buscamos soluΓ§Γ΅es que a gente encontra na periferia. Usar um balde de tinta, uma lata de manteiga para trazer o que de fato a gente encontra. Eu tenho um autorretrato, acho que de 2020, que tem umaΒ Comigo NinguΓ©m PodeΒ ao meu lado e tambΓ©m tenho uma foto minha aos seis anos que tem umaΒ Comigo NinguΓ©m PodeΒ atrΓ‘s. Eu nΓ£o lembrava e encontrei a foto depois que fiz a pintura”, recorda.

Desde cedo

Jeff Alan prossegue: β€œeu pinto desde crianΓ§a. Lembro que na escola, quando tinha trabalho em grupo, pediam para fazer a capa. Eu costumava fazer a capa. Eu gostava muito de estudar atΓ© a oitava sΓ©rie, mas o que era chato no ensino fundamental e ensino mΓ©dio Γ© que vocΓͺ Γ© obrigado a estudar aquilo. JΓ‘ na faculdade Γ© outra coisa. Estuda uma parada que vocΓͺ escolheu e eu gostava muito de matemΓ‘tica. O meu sobrinho Guilherme, de seis anos, faz o mesmo.

TrajetΓ³ria

O pintor lembra que decalcava, usava muito papel carbono e foi crescendo fazendo muito desenho que assistia na TV. β€œCavaleiros do zodΓ­aco,Β Dragon Ball Z,Β PokΓ©mon. Folheando minhas pastas antigas de 20 anos atrΓ‘s encontrei retratos de pessoas que nΓ£o sabia quem era. Acho que foram estudos que contribuΓ­ram para chegar a este resultado. Em 2008, comecei a pichar, depois grafitar e a fazer intervenΓ§Γ΅es urbanas. Comecei a conhecer os movimentos de arte urbana e de 2008 atΓ© 2014 consegui desenvolver o meu estilo que era abstrato. Uns traΓ§os orgΓ’nicos e fiquei conhecido por este trabalho que me criou uma zona de conforto. De 2014 para cΓ‘ jΓ‘ estava na faculdade de Arquitetura e passei a ter muita relaΓ§Γ£o com escritΓ³rio de arquitetura de design de interiores. Esse meu trabalho abstrato Γ© muito comercial. Eu sentia que este trabalho nΓ£o ia me levar ao museu, a uma galeria, a uma exposiΓ§Γ£o como essa”, diz.

Pandemia

Ele conta, a seguir, que quando a pandemia de covid-19 chegou ao Brasil, β€œeu tive que desacelerar e passei a olhar mais para dentro. Passei a me envolver mais com a minha famΓ­lia, me conectei mais com meus ancestrais. AΓ­ eu fizΒ O que vai ser de mim? Em um quarto minΓΊsculo, eu fico muito sΓ³ no quarto quando nΓ£o estou pintando, nasceu a sΓ©rieΒ Olhar para Dentro. A primeira obra foi um jovem com uma garrafa de cola na mΓ£o. Essa obra nasceu a partir de um retrato que eu tinha no meu celular. Lembro de outra obra que foi de um retrato de uma avΓ³ com a netinha na comunidade Nossa Senhora do Pilar, no Recife antigo. Aquela foto eu fiz para o meu trabalho de conclusΓ£o de curso e fui fotografar cena e tem aquele caminhar da avΓ³ com a netinha. A foto – acho que foi em 2016 e em 2020 – eu fiz essa obra. Uma obra que eu fiz, eu estava em uma janela de Γ΄nibus e vi um rapaz com um fardamento azul e ele estava folheando alguma coisa. Lembro bem desse dia. Foi no bairro de Afogados, defronte Γ  igreja do Largo da Paz. O Γ΄nibus parou exatamente naquele local. Lembro tambΓ©m de um poema de MirΓ³ da Muribeca [poeta urbano do Recife que morreu em 2022] que diz que a janela de Γ΄nibus Γ© danada para botar a gente para pensar, principalmente quando a viagem Γ© longa. Γ‰ muito inspirador. Naquele momento fiz uma foto rΓ‘pida. NΓ£o pude conversar com ele porque estava dentro do Γ΄nibus, mas o que me chamou atenΓ§Γ£o foi o fato dele estar com fardamento [que remetia ao pai] e estava folheando uma coisa e que provavelmente se estivesse em ambiente de trabalho seria chamado atenΓ§Γ£o e poderia perder o emprego por estar lendo, estudando, buscando um conhecimento. Aquele momento foi muito marcante para mim. Gostaria que aquela obra estivesse aqui, mas estΓ‘ muito longe [nΓ£o revelou onde estΓ‘] porque foi vendida. Γ‰ uma obra muito importante. Um desenho em aquarela com lΓ‘pis de cor sobre o papel”, acrescenta.

HistΓ³rias

O artista se diz β€œum contador de histΓ³rias. NΓ£o faria sentido algum eu chegar aqui, te receber e dizer que essa aqui Γ© Ivana [Pires]. Γ‰ uma pintura tinta acrΓ­lica sobre tela. Quem Γ© Ivana? Ivana Γ© uma jovem de Salvador. Modelo que estΓ‘ rodando o mundo com seu rosto estampado nas principais revistas de moda. Fazendo um grande trabalho, realizando seu sonho. O que foi que emocionou Ivana? Foi ver a foto dela na capa do catΓ‘logo. Ela publicou isso e disse para mΓ£e que era capa de um livro, que Γ© um catΓ‘logo de uma exposiΓ§Γ£o. Acho que essa reaΓ§Γ£o da Ivana apΓ³s esse trabalho ser concluΓ­do Γ© porque ela entende que o trabalho foi feito por um artista preto, que tem vivΓͺncias parecidas com as dela. Um artista preto que vai dialogar com tantas outras meninas que querem estar nesses lugares que Ivana estΓ‘ alcanΓ§ando.”

Conhecer personagens

Sobre os seus trabalhos, ele diz: β€œmuitas obras que estΓ£o aqui sΓ£o de pessoas que eu conheci e me conectei, como estou me conectando com vocΓͺ [repΓ³rter] e tive uma troca. Facilita o meu trabalho. Aqui tambΓ©m tem obras de pessoas que eu nΓ£o conheΓ§o, referΓͺncias de filmes, de alguma coisa que vi em uma rede social, de uma pessoa que cruzou o meu caminho de forma virtual, aΓ­ vou misturando. Mas muitas obras tambΓ©m sΓ£o autorretratos. Ao passar o tempo estΓ‘ cada vez mais difΓ­cil pintar pessoas que eu nΓ£o conheΓ§o, por isso nΓ£o aceito encomenda, porque nΓ£o conseguiria apresentar uma obra sem conhecer a histΓ³ria daquela pessoa. Ao longo da exposiΓ§Γ£o hΓ‘ obras que consigo me debruΓ§ar e passar horas e horas apresentando aquele trabalho, porque eu conheΓ§o aquela pessoa que estΓ‘ viva e em processo de mudanΓ§as. Muitas obras estΓ£o em andamento, mas o que define que uma obra estΓ‘ concluΓ­da e se sΓ£o pessoas reais? Hoje sou uma pessoa e amanhΓ£ posso ser outra. Registrei o momento”.

RecomeΓ§o

Jeff Alan explica que, β€œao longo da exposiΓ§Γ£o, a gente vai ver que aparece um cΓ©u estrelado, diferente da maioria das obras, aquele desejo de poder contemplar o cΓ©u em paz, de ver as estrelas. Acho que, quando a gente olha, o cΓ©u reacende a vontade de sonhar, quando falo muito de cΓ©u eu lembro de muitas memΓ³rias da minha infΓ’ncia quando eu deitava no chΓ£o e ficava olhando o cΓ©u, as nuvens e ficava brincando com aquilo e desenhando. Acredito que esse sonho azul Γ© o cΓ©u de sonhos, Γ© o cΓ©u do recomeΓ§o. Tem uma obra minha que se chamaΒ RecomeΓ§ar, que nΓ£o estΓ‘ aqui, mas estava no Recife, ela fala sobre um jovem que estΓ‘ no Casem, que Γ© a casa de semiliberdade da Funase [FundaΓ§Γ£o de Atendimento Socioeducativo do Recife], que eu conheci durante uma atividade eu fui fazer lΓ‘. Esse jovem se encontra em dois lugares. No Casem e no museu. E aΓ­ nas visitas mediadas acontecem muitas provocaΓ§Γ΅es e lΓ‘ [alguΓ©m] perguntava. β€˜Quem foi conhecer a histΓ³ria desse jovem no Casem?’. NinguΓ©m, mas vocΓͺs estΓ£o vindo aqui ao museu. SerΓ‘ que Γ© preciso colocar uma obra dentro de um museu para que vocΓͺs conheΓ§am esses jovens? Para que entendam que esses jovens existem, tΓͺm sonhos e queriam estar agora aqui conosco? EntΓ£o, esse azul dessa obra Γ© de recomeΓ§o”.

Novidade

O artista explica que β€œa obra de CaΓ­que Γ© a grande novidade dessa exposiΓ§Γ£o no Centro Cultural da Caixa, no Rio. O retrato tem escrito coragem atrΓ‘s com uma parede vermelha manchada. Esse vermelho que eu falei ser de coragem muitas vezes Γ© um caminho de sangue. Γ‰ o caminho que a gente atravessa, seja no caminho para a escola, para o trabalho e atΓ© para o lazer. Como Γ© atravessar esse caminho sangrento e nΓ£o perder a vontade de sonhar e viver de seus sonhos? Γ‰ muito desafiador a vida do jovem, nΓ£o sΓ³ do jovem, mas do povo perifΓ©rico, do povo preto. EntΓ£o, vejo o CaΓ­que atravessando esse caminho vermelho em busca do sonho dele de ser jogador de futebol, que Γ© o que ele quer agora. Ele jΓ‘ joga, mas que ele seja o que quiser e tenha liberdade de sonhar e ver os seus sonhos, como a gente estΓ‘ vendo aqui em outra obra onde estΓ‘ escrito em uma bolsaΒ Sonhos VivosΒ e aparece com o fardamento [uniforme] azul da rede pΓΊblica do Recife. O que eu quero dizer com isso? Que o caminho da escola para mim foi de sonhos, de descobertas. Foi no caminho da escola que comecei a pichar, fazer grafites, foi onde comecei a me entender enquanto artista e qual o lugar quero ocupar dentro da cidade”.

Invisibilidade

O pintor pernambucano pergunta: β€œquem se preocupa com os sonhos da populaΓ§Γ£o de rua? Muitas das obras falam da vontade de sonhar, de viver os seus sonhos e em paz, nΓ£o mais um caminho vermelho de sangue, mas de amor. Na infΓ’ncia me ensinaram que vermelho era amor. Eu cresci e fui vendo que vermelho Γ© a cor que interrompe muitos sonhos da nossa juventude. Que vermelho Γ© a cor dos nossos corpos estirados no chΓ£o. Γ‰ uma mancha na parede na casa de Douglas, de CaΓ­que, da minha casa e de tantas outras que vivem nesse caos. A gente nΓ£o quer mais falar nesse vermelho amor. Espero que, no prΓ³ximo encontro, a gente possa falar sobre conquistas, afeto. Aqui as obras nΓ£o aparecem sorrindo. Γ‰ todo mundo muito atento, meio que penetra. Acho que isso vem muito do estranhamento de visitar ambientes de cultura e nΓ£o me ver representado ao longo de todos esses anos. Hoje a coisa jΓ‘ estΓ‘ mudando. Pronto, aqui mesmo no Rio a gente tem o MAR [Museu de Arte do Rio], acredito que Γ© um museu que tem a cara do povo. Esse diΓ‘logo que trago aqui nesta exposiΓ§Γ£o jΓ‘ acontece no MAR e em outros equipamentos de cultura do Brasil todo. Demorou muito para que a gente tivesse este espaΓ§o, mas a gente vai escrever uma outra histΓ³ria que nΓ£o vai desrespeitar o que nossos ancestrais fizeram”.

Reflexo da vida

β€œTudo que acontece nesta exposiΓ§Γ£o, acontece nas ruas, entΓ£o, nΓ£o farΓ‘ sentido algum se as pessoas que vierem aqui continuarem ignorando as pessoas nas calΓ§adas, no caminho da escola. Essas pessoas existem. SΓ£o pessoas que tΓͺm sonhos e vontade de viver. Estou muito feliz de estar aqui e otimista com as relaΓ§Γ΅es que a gente vai construir ao longo dessa exposiΓ§Γ£o. O espaΓ§o estΓ‘ aberto para receber, principalmente, gente de quebrada, de favela, maloqueiro e que essas obras sejam vistas como espelho. NΓ£o farΓ‘ sentido algum essa exposiΓ§Γ£o aqui para um pΓΊblico branco contemplar. NΓ£o que seja um problema, mas antes de tudo Γ© importante que as pessoas se vejam e se identifiquem nestas obras. Que sejam espelhos” observa.

PΓΊblico

Pensando na capital pernambucana, Jeff diz que β€œlΓ‘ no Recife ganhei mais de cinco mil seguidores. Tem um depoimento de uma senhora de 56 anos. Ela falou: β€˜Essa Γ© a primeira vez que venho a um museu. Sempre achei que era lugar de patrΓ£o’. Ela Γ© trabalhadora domΓ©stica e escutava muita histΓ³ria dos patrΓ΅es indo viajar. Ela ganhou um convite. A gente buscou esse pΓΊblico que nunca tinha ido a um museu, porque, do contrΓ‘rio, fica sempre dentro da mesma bolha. A gente chamou pessoas que estavam atravessando a rua, comerciantes, pessoas em situaΓ§Γ£o de rua. Pessoas que sΓ£o a cara da exposiΓ§Γ£o. Isso eleva muito a auto estima. Depois que foi lΓ‘, foi de novo e passou a entender que arte tambΓ©m Γ© para ela”.

Caminhos

Ele enfatiza que hΓ‘ β€œcaminhos vermelho, azul e amarelo. Tem composiΓ§Γ£o com amarelo. O que Γ© esse amarelo? Eu sou daltΓ΄nico, entΓ£o a minha paleta Γ© muito reduzida. As cores se repetem muito e sΓ£o cores que me apresentaram na infΓ’ncia. Uso muito o azul, que vem muito do fardamento [macacΓ£o] que meu pai usava [ele era mecΓ’nico da CBTU – Companhia Brasileira de Trens Urbanos]. A memΓ³ria que tenho do azul vem muito disso. O amarelo, nesses brincos que se repetem em muitas obras e mudam de tamanho, representa o ouro. Em algum momento eu disse que ia substituir esse amarelo por uma folha de ouro, deixei levar e meio que se criou identidade e eu mantive. O amarelo Γ© para representar o ouro que Γ© nosso, que foi roubado e a gente quer de volta. A gente quer portar ouro, prata, enfim, portar joias. Em algumas obras aparecem acessΓ³rios, bΓΊzios”.

Vermelho nos olhos

Ainda sobre cores, o artista afirma que β€œo vermelho nos olhos vem muito da expressΓ£o sangue nos olhos. Parte de muita indignaΓ§Γ£o que resultou nesta exposiΓ§Γ£o. Posso dizer que fiquei muito tempo com sangue nos olhos, por falta de visibilidade, falta de espaΓ§o, por nΓ£o me sentir representado. Isso tem muito de indignaΓ§Γ£o. Eu pinto muito quando estou triste, mas pinto muito mais quando estou feliz. Acho que essa necessidade de pintar em um momento de tristeza Γ© para colocar para fora o que eu tenho de melhor, para me sentir vivo, me sentir ΓΊtil. Essas obras sΓ£o resultado de muitas emoΓ§Γ΅es, de muita revolta e tambΓ©m de muita alegria e de muitos sonhos”, confessa.

FamΓ­lia

Em outro ponto da entrevista, o artista diz que, β€œpela primeira vez a minha famΓ­lia viajou para o Rio de Janeiro [veio para a abertura da exposiΓ§Γ£o na quarta-feira (21)]. Minha mΓ£e, dona Lucilene, na primeira vez que andou de aviΓ£o foi para ver a exposiΓ§Γ£o do filho dela e com dinheiro de arte. Minhas irmΓ£s estΓ£o aqui, meu sobrinho com seis anos de idade fez a primeira viagem de aviΓ£o. Eu fiz quando jΓ‘ estava com mais de 20 anos. Poder proporcionar isso para minha famΓ­lia, vivendo do meu sonho, Γ© algo que eu sempre quis. Desde crianΓ§a quis viver de arte. AtΓ© os 15 anos ficava dividido entre futebol e artes visuais, mas nunca deixei de pintar”.

Sonho

O artista finaliza o seu depoimento falando de sonhos. β€œUm dos meus principais sonhos Γ© construir uma Escola de Arte no meu bairro. NΓ£o sΓ³ uma escola de arte, mas uma escola para potencializar sonhos. Venho juntando recursos para realizar e viver esse sonho. [Vamos perguntar] Qual Γ© teu sonho? β€˜Ser jogador de futebol’. Como podemos ajudar a concretizar isso? Bora fazer vΓ­deos teus jogando. Se quer ser costureira bora fazer parcerias com grandes marcas. Isso que estou vivendo hΓ‘ muitos anos Γ© muito gostoso. Γ‰ muito prazeroso viver dos sonhos. Γ‰ muito bom”.

Fonte: AgΓͺncia Brasil

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