Moda: projetos sociais elevam autoestima de mulheres periféricas

Valfenda e TOP Cufa apoiam moradoras de comunidades do Distrito Federal interessadas em moda e beleza

Nascida no interior da Bahia, casada e mãe de três filhos, a depiladora Mônica Dias, de 37 anos, mudou-se para Brasília em 2017 em busca de melhores condições de vida. Moradora do Areal (DF), ela foi aluna da 2ª edição do Projeto Valfenda, que tem como objetivo alcançar mulheres em situação de vulnerabilidade social e emocional e ajudá-las usando a moda como uma ferramenta de transformação social e valorização do indivíduo.

Criada na casa dos tios, Mônica vem de uma família humilde e trabalha desde os 13 anos de idade. Mãe aos 15, casada desde os 16, sempre se virou como pode para ajudar no sustento da família. Já foi doméstica, sorveteira, feirante, vendedora e hoje trabalha na área da beleza. Ela se inscreveu no Valfenda depois que viu o anúncio do curso gratuito em sua região.

O projeto oferece cursos gratuitos e oficinas de corte e costura, modelagem, empreendedorismo, upcycle (reaproveitamento de roupas), maquiagem profissional, montagem de coleção, fotografia e moda, processo criativo e economia doméstica. Já caminha para a quarta edição e tem, como critério de escolha das sedes, cidades periféricas que abrigam mulheres carentes.

Mônica afirma que, no Valfenda, viveu coisas que jamais imaginou: criar a própria roupa, desfilar, fazer uma sessão de fotos. “Aquele momento para mim foi uma realização. Receber e vivenciar tudo isso de forma gratuita realmente foi um presente”, relata a depiladora.

Reaproveitamento

Ela descreve que aprendeu bastante com o upcycle, técnica que consiste no reaproveitamento de tecidos que seriam descartados para criar novas peças e, assim, tem reutilizado suas roupas da melhor maneira possível.

O Valfenda também ressignificou todo o conceito e entendimento de moda da baiana. “Aprendi a como melhor me vestir e escolher roupas dentro da minha realidade. Me sinto outra pessoa, aprendi a me maquiar, a me olhar no espelho e me admirar, a me amar bem mais que antes do curso”, revela.

As noções repassadas sobre fotografia também foram bem importantes para Mônica. Ela afirma que aprendeu a como tirar fotos e hoje isso é que a ajuda nas demonstrações do seu trabalho.

Acesse o perfil do Projeto Valfenda

A design de moda Isabelle Esmeraldo é idealizadora e coordenadora do projeto e diz prezar sempre pelos ideais de valorização do ser, da mulher, além da troca de vivências, aprendizado, acolhimento mútuo e empatia. “Sobretudo, o amor ao próximo”, emociona-se.

A venezuelana Alba Marcano, 26 anos, também tem formação em moda e é uma das instrutoras da oficina. Ela encontrou no ensino a junção do exercício da sua profissão com a vontade de servir as pessoas e fazer a diferença em suas vidas.

“O ensino é mais do que conhecimento, é vida que se propaga a partir do carinho e contato com o outro”, descreve a professora. Mônica encara a oficina de costura como um empurrão e uma boa oportunidade para quem não tem condições financeiras de se profissionalizar em algo. “Uma ajuda que fez e ainda vai fazer diferença na vida de muitas mulheres”.

 

Na favela

Central Única das Favelas do Distrito Federal (Cufa-DF) tem, dentre os seus projetos sociais, o evento de moda Top-Cufa. Ele foi criado com o intuito de oferecer aos jovens da periferia a chance de se tornarem modelos profissionais. A iniciativa tem caráter nacional desde 2012. Mas foi interrompido.

Em 2016, o presidente da Central Única das Favelas do DF, Bruno Kesseler, decidiu reativar o projeto, desta vez em âmbito regional. Agora, com algumas alterações no projeto base, foram criadas duas categorias: a Fashion e a Street. A Fashion é para meninas com perfil de passarela e a Street para o lado mais comercial da moda.

“Neste ano lançamos um projeto nacional, a Expo Favela. Uma grande feira de empreendedorismo voltada para pessoas periférica. Lá surgem novas tendências e novas ideias sempre, por isso abrimos espaço para meninos e meninas ingressarem no mercado.”

A estudante Gabriele Nicole Santana, de 22 anos, participante do Top Cufa em 2021 e 2022, vencendo em 2022 a categoria Fashion Feminina, comenta que a importância dos projetos realizados ressalta a representatividade da pessoas em se aceitar da forma que são, como o de um corte de penteado em seu visual, por exemplo.

“Foi algo impactante na minha vida, ver tantas pessoas como eu, armando seu cabelo, deixando de ter aquela vergonha e o deixando natural”.

Após a participação no projeto, ela se sentiu motivada e decidiu fundar, junto a sua mãe, o programa social Esperança e Movimento. Ele se localiza na região periférica em que mora, Sol Nascente.

Gabriele também ressalta a importância do projeto na vida da comunidade, em especial para as crianças com pouca oportunidade e das doações que recebe para manter ativo o Esperança e Movimento.

“É um projeto bastante importante. Esse ano fizemos um mini desfile que foi algo essencial para as crianças, porque acaba que elas me veem como exemplo e ter desfilado foi importante para ela e para os pai”, diz Gabriele. A consultora de moda Lorena Valença, de 25 anos, afirma que a melhor técnica para se sentir sempre bem consigo mesma com suas vestimentas é a descoberta do estilo pessoal.

Fonte: Agência Notícias

Créditos: pexels-rfstudio-3843413

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