O entretenimento de impacto social é o uso da mídia, artes visuais, cinema, teatro, música e outras formas de expressão para promover mudanças sociais positivas com o objetivo de educar, conscientizar e mobilizar as pessoas em torno de causas sociais relevantes. As ferramentas mais comuns são filmes, séries, campanhas publicitárias, jogos, espetáculos e músicas com mensagens transformadoras.
Nos EUA, o exemplo mais novo da promoção do entretenimento de impacto social é a SIE Society, cuja missão é educar, conectar e capacitar profissionais de entretenimento, organizações sem fins lucrativos e negócios para aproveitar as narrativas em todas as mídias para maior bem social e impacto mensurável.
No mundo audiovisual, a produtora norte-americana independente Participant Media foi a pioneira de narrativas sociais. Com a missão de inspirar justiça social e ação humanitária, produziu, financiou ou coproduziu 135 filmes e cinco séries de televisão. Seus filmes foram indicados a 73 Oscars, vencendo 18, incluindo Melhor Filme para Green Book – O Guia e Spotlight – Segredos Revelados. Seu fundador, Jeff Skoll, anunciou seu fechamento em abril deste ano.
No Brasil, a Maria Farinha Filmes é a empresa líder em cinema de impacto na América Latina, focada em criar histórias inspiradoras que emocionam e engajam grandes audiências. Com mais de 50 produções e 15 anos de experiência, a produtora se destaca por produções como a série Aruanas, vista por 35 milhões de pessoas por episódio, com o propósito de alertar para a crise ambiental mundial e tratar de valores éticos como a integridade, justiça, civismo, responsabilidade social e sustentabilidade empresarial. A MFF anunciou recentemente a contratação de um dos principais executivos da Participant Media para liderar suas operações globais em Los Angeles.
Embora as formas mais conhecidas de entretenimento de impacto social estejam no conteúdo, principalmente em filmes e séries, existem outras ferramentas de entretenimento de impacto social por trás das câmeras, através da formação de jovens na criação e produção audiovisual, de forma a permitir que eles se expressem diretamente através de suas próprias vozes e tratem de temas importantes, como mudança e transformação social.
Um exemplo é o Cinema Nosso, instituição sociocultural que foi constituída a partir da experiência do filme Cidade de Deus e trabalha para reduzir as desigualdades sociais e proporcionar experiências de tecnologia e inclusão para a produção de narrativas juvenis, fomentando a cadeia produtiva do audiovisual no Brasil.
Localizado na Comunidade do Vidigal, no Rio de Janeiro, outro programa pioneiro é o Grupo Nós do Morro, uma associação cultural sem fins lucrativos fundada em 1986, cujo objetivo é proporcionar o acesso à arte e à cultura para crianças, jovens e adultos com seus projetos de teatro e audiovisual.
Fundado em 2003 pelo apresentador de TV Luciano Huck, o Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias, em São Paulo, tem como missão promover o desenvolvimento profissional, sociocultural e pessoal de jovens por meio do audiovisual. Anualmente, 125 jovens, com idade entre 17 e 20 anos e em situação de vulnerabilidade social e econômica, recebem formação técnica e sociocultural.
O mais novo projeto de entretenimento de impacto social é o curso de inclusão social de comunidades do Rio de Janeiro através do audiovisual. Organizado pelo Latin American Training Center-LATC, o projeto é uma iniciativa do Conselho de Cultura da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). No município do Rio de Janeiro, os principais parceiros são a ABC Cursos de Cinema, a Secretaria Especial da Juventude Carioca (JuvRio), a RioFilme, o Sindicato Interestadual da Indústria Audiovisual-SICAV, o Sindicato Interestadual dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual-STIC, a Motion Picture Association-MPA (Brasil) e outros patrocinadores e apoiadores estratégicos do setor privado.
O curso oferece uma introdução ao mundo audiovisual com a produção de curtas feitos com celular para incentivar jovens a entrar no mundo profissional de cinema. Os estudantes desenvolvem um projeto próprio, do roteiro até a finalização, e, após o curso, uma mostra dos curtas produzidos acontece em uma sala de cinema com a presença das famílias, amigos e outros moradores das comunidades.
Realizado aos sábados, na sede da ABCCC, em Laranjeiras, oferece suporte para transporte e alimentação dos jovens selecionados, que recebem também um certificado oficial de conclusão do curso. Além disso, podem receber bolsas de estudo para cursos de inglês oferecidos pelo LATC, cursos técnicos do audiovisual oferecidos pela ABCCC, e estágios oferecidos por empresas produtoras associadas à SICAV – Sindicato Interestadual da Indústria Audiovisual. Assim, o projeto é estruturado para dar ênfase em empreendedorismo e empregabilidade.
Nos dois cursos de 2024, participaram jovens das comunidades Júlio Otoni, Tavares Bastos, Pereira da Silva, Fallet, Morro Azul, Santo Amaro, Cidade Nova, Vila Isabel, Babilônia, Campo Grande, Bangu, Guaratiba, Santa Cruz, Cidade de Deus e Ilha Grande. O próximo curso será para moradores de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, em parceria com a Cia. Encena, a Secretaria Municipal de Cultura, a Secretaria Municipal de Assistência Social, a Escola CIEP 117 Carlos Drummond de Andrade Intercultural Brasil-Estados Unidos, a Casa da Juventude Iguaçuana e a Associação Comercial e Industrial de Nova Iguaçu-ACINI.
Steve Solot é presidente do Latin American Training Center-LATC e Senior Advisor do Albright Stonebridge Group – ASG/DGA
Fonte: Revista de Cinema