A afirmação é do cirurgião dentista Marco de Luca, de São Carlos (SP), que acaba de chegar do Malawi, na África, onde participou de uma caravana de profissionais de saúde organizada pela Fraternidade Sem Fronteiras
Por Flávio Resende*
Suspensa desde o início da pandemia, a Caravana da Fraternidade sem Fronteiras (FSF) para o Malawi, enfim, cumpriu sua missão. De 8 a 21 de março de 2022, 15 caravaneiros brasileiros, de todas as regiões do Brasil, embarcaram rumo ao país africano, com o propósito de apoiar as ações humanitárias desenvolvidas pela organização lá.
Um destes voluntários é o cirurgião dentista Marco Antonio Nastri de Luca, de São Carlos (SP), que completa sua quarta missão humanitária, coordenada pela FSF (além do Malawi, ele já viajou duas vezes para Madagascar e outra para Roraima). “Entrei para a Fraternidade sem Fronteiras em 2017 como padrinho, mas sempre com o sonho de um dia poder fazer algo mais do que somente contribuir financeiramente. E, quando fui pela primeira vez, em 2019, para Madagascar, percebi que esta atividade seria parte da minha vida dali em diante”, conta o paulista, que se auto define um espírito buscando aprender e evoluir.
Dentre as coisas que mais marcaram Marco nesta experiência foi ver “o resultado maravilhoso que vem sendo conseguido com o trabalho sério da FSF e de todos os envolvidos nestes projetos”.
Ele conta que o projeto “Nação Ubuntu” está montado ao lado do campo de refugiados de Dzaleka, no Malawi, para que os refugiados tenham acesso a uma oportunidade de trabalho (na lavoura ou em qualquer outro setor do projeto), a atendimento médico e odontológico, além de ensino e alimentação. Orgulhoso, ele detalha que a escola que foi montada na cidade já atende 350 crianças do campo, “mas a necessidade ainda é muito maior”, reforça.
As iniciativas “Mães do Campo” e “Alimentos sem Fronteiras”, que se integram ao “Nação Ubuntu”, dão oportunidade a algumas mulheres de terem um trabalho digno para o sustento de seus filhos. Atualmente, são 195 atendidas pela iniciativa.
Existe também o “Coral Ubuntu”, que estimula a prática dos valores culturais da população e que acaba também sendo uma oportunidade financeira, “já que alguns voluntários estão fazendo contribuições mensais para os integrantes deste coral terem algum recurso que incentive a participação deles no projeto”.
O dentista relata que colocar-se a serviço do outro, durante e fora das caravanas, é sempre um exercício e uma experiência muito gratificantes. “Um alimento para a alma”, resume.
Na prática, as caravanas são mutirões que juntam pessoas com habilidades diversas para acrescentar algo para o projeto e a população local. “Nossa caravana, como era da saúde, levou atendimento de pediatria, ginecologia, psiquiatria, cardiologia, clínica geral e atendimento odontológico. Cada atendimento foi voltado para sanar ou amenizar os problemas dos que tivemos a oportunidade de servir”, descreve.
Quando questionado sobre a diferença entre as caravanas das quais participou na África, Marco Antônio é enfático: “Madagascar tem um enfoque muito grande em minimizar os problemas relacionados à desnutrição de milhares de crianças em seus mais diversos níveis. A fome é chocante na região, onde a FSF atende. Já o ‘Nação Ubuntu’ cuida de pessoas que perderam a vida que tinham em seus países de origem. Muitos, inclusive, tinham profissão estabelecida e hoje sobrevivem da forma como é possível. Vivem em condições sub-humanas por não terem direito de trabalho e estudo fora do campo de refugiados”.
Hoje, são aproximadamente 56 mil refugiados na região, limitados a viverem com aproximadamente cinco dólares por mês, que é o valor que os órgãos federais de assistência pagam para cada um.
Mesmo com tanto sofrimento, o povo é acolhedor. “Sempre existe uma receptividade muito grande do povo local para com as caravanas que chegam, uma alegria indescritível. Isso é resultado do histórico da ajuda que estes grupos têm levado e do espírito de gratidão e de felicidade que muitos conseguem manter, apesar de tantas adversidades”, conta o dentista.
Para o voluntário, este trabalho precisa continuar para que não se perca tudo o que já foi conseguido. “Para que continuemos dando esperança e possibilidades a um povo que tem tudo para desacreditar do mundo, mas que resiste”, pondera, acrescentando que voltou com mais ânimo para fazer a sua parte. “As necessidades por aqui também continuam. É necessário fazer em todo lugar o que Deus nos permitir”, complementa.
Para Marco, o seu olhar para a vida se renova a cada viagem como esta. “Acho que quando estamos dispostos a enxergar melhor o que temos e o que somos, em essência, a partir do olhar para o outro e para nós mesmos, redescobrimos novas formas de impactar positivamente o mundo. É uma mudança constante, um olhar que se amplia a cada dia”, afirma.
“E quem tiver vontade e disponibilidade financeira de participar de uma caravana, não deixe para depois. Cada um, é claro, com suas limitações e motivações internas, está num momento diferente de sua vida, mas, se for possível, se for um sonho, não deixe de fazer. Cada voluntário representa muito nessas caravanas, independente da profissão. Basta estar disposto a ajudar e servir”, finaliza.
Para saber mais sobre as caravanas da Fraternidade Sem Fronteiras, acesse o site: www.fraternidadesemfornteiras.org.br.
*Jornalista voluntário da Rede de Assessorias de Comunicação da Fraternidade Sem Fronteiras.