FamΓlia de Giovana PΓ©tala, que faleceu em 2015, compartilhou as ΓΊltimas obras da menina com o hospital
O Hospital da CrianΓ§a de BrasΓlia JosΓ© Alencar (HCB) recebeu, na segunda-feira (4), um presente repleto de emoΓ§Γ£o e gratidΓ£o: quadros pintados por Giovana PΓ©tala. A famΓlia da menina, que faleceu hΓ‘ nove anos, doou ao hospital as telas que ela pintou durante o perΓodo de tratamento, realizado no prΓ³prio HCB.
βGiovana era uma menina de 11 anos extremamente saudΓ‘vel, esperta, alegre. De repente, apareceu com uma dor na perna, mancandoβ, diz Rakelene BrandΓ£o, mΓ£e da menina. ApΓ³s a realizaΓ§Γ£o de uma ressonΓ’ncia magnΓ©tica, a crianΓ§a foi diagnosticada com osteossarcoma e encaminhada ao HCB. βPara nΓ³s, o impacto do diagnΓ³stico foi muito grande, um desabamento. TΓnhamos que ter forΓ§a, energia, serenidade para conduzir um momento que nΓ£o sabΓamos onde iria nos levarβ, relata o pai de Giovana, Humberto Giordano.
Ao longo do tratamento, a menina mostrou a todos do hospital o talento que tinha para as artes. βEla gostava das atividades que envolviam esforΓ§o fΓsico, fez arte circense e era bastante artΓstica: comeΓ§ou a tocar violino aos 6 anos, mas tambΓ©m aprendeu um pouco de violΓ£o e escaleta. NΓ³s dois ensaiΓ‘vamos juntos e ela chegou a tocar em um casamento. Na fase da doenΓ§a, ela se ocupou com a pinturaβ, explica o pai.
Rakelene conta que os quadros eram feitos em casa, em um espaΓ§o que a famΓlia preparou para ser o ateliΓͺ de Giovana: βEla fazia brinquedinhos de biscuit, depois aprendeu a fazer de feltro e levava para o hospital. Era uma coisa que a entretinha. Uma amiga minha, que Γ© artista, veio ensinar a pintar. A Nana se envolvia com essas coisas e o tempo passava; ela tinha o compromisso de levar as peΓ§as para o hospital, a vaidade de mostrar aquilo que tinha feitoβ.
Os pequenos bichinhos de feltro e biscuit que Giovana produziu ao longo do tratamento encontraram donos entre os funcionΓ‘rios do HCB e outras famΓlias acompanhadas pelo hospital β a prΓ³pria menina os distribuΓa Γ medida que confeccionava os itens. Os quadros, porΓ©m, ainda nΓ£o eram conhecidos fora do cΓrculo familiar e de amigos.
βColoquei os quadros em uma caixa e me deu um insight: serΓ‘ que Γ© para eu ficar com eles sΓ³ para mim? Esses eram os primeiros passos que ela estava dando na pintura; ela estava conhecendo e se inspirando. Eu sentia como se os quadros estivessem aprisionados β com a natureza da Giovana, tΓ£o iluminada e livre, como eu ia fazer isso?β, reflete Rakelene. Ela cogitou leiloar as obras e doar a verba obtida ao HCB, mas considerou que a doaΓ§Γ£o dos prΓ³prios quadros seria uma homenagem mais adequada Γ memΓ³ria da filha: βΓ a memΓ³ria do tempo que ela estava no hospital. Todo o bem-estar, o acolhimento que era oferecido a ela estΓ‘ neles; essa Γ© a pontinha do iceberg de bondade que recebemosβ.
βEsses quadros sΓ£o de todos agora. Acho que vΓ£o perpetuar, na vida de cada um que entrar nessa unidade, um pouquinho da histΓ³ria dessa crianΓ§a que tambΓ©m passou por aqui e que deixou uma pincelada da vida dela para quem quiser conhecerβ, concorda Humberto.
MΓΊsica
A doaΓ§Γ£o dos quadros foi marcada por outra homenagem a Giovana β desta vez, em forma de mΓΊsica. βPensΓ‘vamos, como ela, em sair daqui com a cura e dar seguimento Γ vida. Ela me dizia: βpai, nΓ³s temos que vir aqui tocar para as crianΓ§as, eu no violino e vocΓͺ no violΓ£oββ, explica Humberto.
Alguns anos apΓ³s o falecimento da filha, ele se tornou voluntΓ‘rio da AssociaΓ§Γ£o Brasileira de AssistΓͺncia Γ s FamΓlias de CrianΓ§as Portadoras de CΓ’ncer e Hemopatias (Abrace) e, atualmente, realiza o desejo da filha tocando violΓ£o na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
βNΓ£o posso dizer que nΓ£o tenho dificuldades nisso, mas tambΓ©m tenho muito prazer e satisfaΓ§Γ£o. No fim das contas, eu sou presenteado por ter a oportunidade de estar aqui. Mesmo com a dificuldade das outras famΓlias e das outras crianΓ§as, posso trazer algumas horas de mΓΊsica para a vida delas e tenho certeza que minha filha vem junto, como aqui estΓ‘ hojeβ, garante.
Em frente aos quadros de Giovana, Humberto tocou canΓ§Γ΅es clΓ‘ssicas da mΓΊsica brasileira β entre elas, uma homenagem especial: βEscolhi uma mΓΊsica que gostΓ‘vamos de tocar juntos e que Γ© um clΓ‘ssico do Luiz Gonzaga,Β Asa Branca. Houve outras, mas essa Γ© marcante; ela gostava muito e executava bem ao violino, de uma forma muito divertida e descontraΓdaβ.
Sob os olhares emocionados da famΓlia, de profissionais que acompanharam a menina e de outras famΓlias atendidas pelo HCB, os quadros foram entregues ao hospital para que possam ser expostos. βMesmo com a dificuldade de um tratamento duro, a Nana era cheia de vida. Tenho muito orgulho de ser mΓ£e dela; se precisasse, faria tudo de novoβ, se emociona Rakelene.
Inicialmente dispostos no hall central, os quadros de Giovana chamaram atenΓ§Γ£o tanto pelo trabalho artΓstico da menina quanto pela histΓ³ria. A supervisora de enfermagem do Hospital-Dia do HCB, Karina Souza, conta que a jovem artista βera maravilhosa, era um ser de luz; digo que eu Γ© que fui acolhida por ela e construΓmos uma relaΓ§Γ£o de amizade. Essa doaΓ§Γ£o Γ© um ato nobre, que vai servir de inspiraΓ§Γ£o para outras crianΓ§asβ. Na opiniΓ£o dela, os quadros βsΓ£o cheios de amor, de alegriaβ e podem incentivar, inclusive, outros talentos que jΓ‘ existem no hospital.
Um desses novos artistas Γ© Pedro Dourado, 15 anos. O jovem desenhista β que retrata, principalmente, temas automobilΓsticos e paisagens da Bahia (seu estado de origem) β logo se interessou pela exposiΓ§Γ£o. SΓ£o quadros muito bonitosβ, elogiou o pai de Pedro, GilvΓ’nio Dourado.
A diretora de Voluntariado da Abrace, Marli Trindade, tambΓ©m prestigiou a exposiΓ§Γ£o e mostrou a coruja de feltro que recebeu de Giovana quando conheceu a menina, em uma de suas internaΓ§Γ΅es. βEla ficava triste por estar passando por aquilo β mas ficava feliz na hora que fazia esse bichinhos, eram sempre momentos de alegria; Ela era talentosaβ, recorda Trindade.
Fonte: AgΓͺncia BrasΓlia
CrΓ©ditos: pexels-ιε£ε 倴θη-wangming’photo-354939