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Quando a dor é maior do que a vontade de viver

Autor: Flávio Resende

Estamos chegando ao fim do mês de setembro, período em que, normalmente, fala-se bastante sobre a necessidade de conscientização quanto à prevenção do suicídio.

 

A data foi institucionalizada no Brasil em 2015, numa iniciativa do CVV (Centro de Valorização da Vida)CFM (Conselho Federal de Medicina) ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), com a proposta de associar a cor amarela ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro).

 

De norte a sul do país, monumentos (como o Cristo Redentor (RJ); o Congresso Nacional e o Palácio do Itamaraty (DF); o Estádio Beira Rio (RS); e o Elevador Lacerda (BA), para citar apenas alguns) são iluminados com a cor da campanha para chamar a atenção da sociedade para um tema tão complexo e relevante.

 

Com a pandemia, a procura por apoio emocional do CVV cresceu em escalas exponenciais. Isso se deve, em grande parte, à intensificação dos conflitos familiares (com o aumento do período de convivência); aos problemas financeiros (desencadeados pela crise econômica pela qual atravessa o país); e às crises de identidade, causadas, majoritariamente, pela perda de entes queridos, de emprego e de foco na vida, além de problemas familiares e relacionais. Mas a complexidade do tema é diretamente proporcional à capacidade de cada um suportar a dor, que varia de pessoa pra pessoa.

 

O fato é que, por razões diferentes, muito mais gente do que se imagina já pensou em suicídio. Só para se ter uma ideia, um estudo realizado pela Unicamp aponta que 17% dos brasileiros, em algum momento, pensaram seriamente em dar um fim à própria vida e, desses, 4,8% chegaram a elaborar um plano para isso.

 

Seria possível, portanto, evitar que pensamento suicidas se tornem realidade? Muita gente (incluindo eu) acredita que sim, começando pela educação. Isso porque, por muitos anos, falar no assunto foi um tabu, gerando medo e repulsa social.

 

Muito em decorrência da campanha Setembro Amarelo, esta realidade tem, felizmente, mudado. Identificar as principais causas e as formas de apoiar pessoas em estado de sofrimento configuram o passo inicial para a redução das taxas de suicídio no Brasil, onde, em média, 32 pessoas tiram a própria vida, a cada dia.

 

Estar atento e sensível às pessoas que circulam à nossa volta contribui no processo de identificação de indivíduos que precisam de suporte emocional, mesmo que momentâneo.

 

Portanto, é fundamental ficarmos atentos ao isolamento, mudanças marcantes de hábitos, perda de interesse por atividades de que a pessoa gostava, descuido com a aparência, piora do desempenho na escola ou no trabalho, alterações no sono e no apetite, frases como “preferia estar morto” ou “quero desaparecer”, pois sinais assim podem indicar a necessidade de ajuda.

 

Lamentavelmente, muita gente que se sente vulnerável emocionalmente ou esteja em depressão não sabe que pode receber apoio, inclusive sem a necessidade de sair de casa.  Nós, voluntários do CVV, somos treinados para conversar com pessoas que estejam passando por alguma dificuldade e que possam pensar em tirar sua vida. Para conversar com um voluntário, basta ligar para o telefone 188, gratuito, que funciona 24 horas. Também é possível mandar um e-mail ou falar pelo chat, que podem ser acessados pelo site www.cvv.org.br.

Quando a dor é maior do que a vontade de viver, há fortes evidências de que precisamos redobrar nossa atenção, enquanto sociedade, para redescobrirmos possibilidades que tragam novo sentido ao existir.

 

* É jornalista, entusiasta de iniciativas de impacto social e voluntário do Centro de Valorização à Vida (CVV).

 

 

 

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