Como tornar o audiovisual mais inclusivo? Iniciativa de produtoras brasilienses capacita profissionais de base

Destinado aos profissionais das áreas da comunicação e produção cultural, série de oficinas inspirada no guia do Ministério da Cultura está com inscrições abertas

A acessibilidade em conteúdos audiovisuais é fundamental para garantir o direito à informação e ao entretenimento para todas as pessoas . A Lei Brasileira de Inclusão, baseada na Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, e a instrução Normativa 128 da Agência Nacional do Cinema, Ancine, determinam que todas as produções audiovisuais devem garantir condições de acesso para todos, inclusive para as pessoas com deficiência. No entanto, apesar dos avanços na legislação e nas tecnologias assistivas, ainda é comum encontrar produções que não contemplam as necessidades das pessoas com deficiência auditiva, visual ou cognitiva.

Diante dessa realidade, a Cinese Audiovisual e a Candiá Produções, produtoras comprometidas com a diversidade e a inclusão no mercado da comunicação, unem forças para realizar uma formação gratuita e online em produção audiovisual acessível. O projeto, financiado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF), surge como uma importante iniciativa ao oferecer 4 oficinas sobre acessibilidade com objetivo de capacitar produtores culturais, cineastas, profissionais das áreas da comunicação e da acessibilidade para produzirem conteúdo digital, aplicando os princípios básicos do “Guia para Produções Audiovisuais Acessíveis” do Ministério da Cultura.

O cineasta e produtor audiovisual Leonardo Monteiro, um dos idealizadores do projeto, acredita que a capacitação, além de fomentar a economia criativa, também promove a diversidade no mercado audiovisual. “A falta de acessibilidade não só exclui uma grande parcela da população, como também limita as oportunidades de negócios e de inovação no mercado audiovisual. Ao capacitar produtores, comunicadores e cineastas para produzirem conteúdo acessível, estamos contribuindo para a formação de uma nova geração de profissionais que valorizam a inclusão e a diversidade em seus trabalhos”, afirma.

FORMATO E ACESSIBILIDADE

A atividade formativa com oficinas de produção audiovisual acessível, legenda descritiva, audiodescrição e janela de Libras para audiovisual, conta com uma mostra de resultados, e acontece entre os dias 03 de julho a 09 de agosto com renomados profissionais do Distrito Federal, através das plataformas Zoom e Youtube, com acessibilidade em Libras. A seleção de participantes será feita por meio da análise das respostas do formulário de inscrição objetivando contemplar a maior diversidade de profissionais possível, sendo 50% das vagas reservadas para ações afirmativas. Para tanto, serão considerados os seguintes critérios: diversidade territorial (o projeto visa atingir o maior número de regiões administrativas possível), paridade de gênero, diversidade de pessoas e perfil de atuação profissional. As inscrições ficam abertas até o dia 23 de junho, por meio do site www.cineseaudiovisual.com.br.

Os encontros online finalizam no dia 9 de agosto, com a realização da Mostra de Resultados, onde serão compartilhados os materiais com recursos de acessibilidade criados pelos participantes da atividade. Ao todo, serão 21 horas/aula de conteúdo, com certificação para quem cumprir todos os requisitos de participação. A partir do dia 10 de agosto, todo o material gravado ficará  aberto ao público.

 

A coordenadora de comunicação do projeto, Valéria Amorim, destaca que o projeto busca não só capacitar os participantes diretos das oficinas, mas também democratizar o acesso a conteúdos audiovisuais acessíveis, alcançando um público amplo “Nossa meta é capacitar 30 pessoas de forma direta no Zoom e alcançar uma média de 100 pessoas com a transmissão ao vivo no YouTube. Após a Mostra todos os vídeos serão disponibilizados como material de consulta e pesquisa, com acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva por meio de tecnologia assistiva de legenda descritiva, Libras e audiodescrição”, explica Valéria.

INSPIRAÇÃO

O projeto nasceu inspirado na ideia de aproveitar os conhecimentos e as técnicas presentes no “Guia para Produções Audiovisuais Acessíveis”, adaptando-os para as necessidades de uma formação online e com acessibilidade. A publicação, lançada em 2016 foi idealizada por Sylvia Bahiense Naves, que na época exercia o cargo de coordenadora de Gestão Estratégica da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, e sua organização contou com uma ampla equipe, formada por professores e mestrandos da Universidade de Brasília (UnB), professores da Universidade Federal do Ceará (UFCE) e profissionais especializados no tema. Entre eles a professora e audiodescritora Soraya Ferreira, e o  pesquisador e consultor de acessibilidade, Saulo Machado, que também são oficineiros do projeto.

O guia conta com orientações técnicas para a realização de audiodescrição, janela de interpretação de língua de sinais e legendagem para surdos e ensurdecidos, visando garantir a acessibilidade em conteúdos audiovisuais. Seguindo o lema “nada sobre nós, sem nós” da Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, todas as recomendações que constam no guia foram testadas por pessoas com deficiência visual e auditiva. Honrando essa premissa, o projeto Audiovisual Acessível conta com a participação ativa de pessoas com deficiência na equipe docente e de consultoria em acessibilidade.

Para inscrições e mais informações, acesse: www.cineseaudiovisual.com.br

CONHEÇA OS OFICINEIROS

Soraya Ferreira

Audiodescritora, Mestre e Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Bacharel em Letras / Tradução Inglês, também pela PUC-SP. Atualmente é professora associada da Universidade de Brasília – UnB, vinculada ao Curso de Tradução e ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, onde atua principalmente nos seguintes temas: tradução literária e audiovisual. Tem trabalhos publicados nas áreas de crítica literária, tradução intersemiótica, audiovisual e acessibilidade. Além disso, é membro do grupo de pesquisa Acesso Livre com foco em audiodescrição para pessoas com deficiência visual e legendagem para surdos e ensurdecidos. Membro fundador do Núcleo de Tecnologia Assistiva, Acessibilidade e Inclusão – NTAAI. Vice-diretora do Instituto de Letras- UnB (2018-2019). Organizadora e coautora do Guia para Produções Audiovisuais Acessíveis – SAV/MinC.

Saulo Machado

Pesquisador, professor e crítico de cinema. É Doutorando em Literatura e Mestre em Linguística pela Universidade de Brasília – UnB, Especialista em Libras pela Faculdade Alvorada, graduado em Letras/Libras pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Letras – Português/Inglês e Respectivas Literaturas pelo Centro Universitário de Brasília – UniCEUB. Atua como pesquisador e consultor da acessibilidade de cinema para surdos e ensurdecidos e colaborador da transcrição de legendagem e tradução de Língua de Sinais Brasileira em festivais e mostras de cinema. Tem experiência em temas como: cinematografia, literatura, estudos culturais, artes visuais, Língua Brasileira de Sinais, acessibilidade, surdos, comunidade surda, linguística geral, tradução, sociolinguística, variação linguística, neologismo, semântica, estudos lexicais, educação bilíngue para surdos e políticas públicas e linguísticas da língua de sinais.

Tabuh Tavares

Mais conhecido pelo seu nome social, o Professor Tabuh (no documento Anderson Tavares Correia-Silva) é pedagogo (UFPE), especialista em Língua Brasileira de Sinais (UniFael) e mestre em Estudos da Tradução (UnB), com pesquisa sobre audiodescrição de histórias em quadrinhos em Língua Brasileira de Sinais. Atua com acessibilidade desde 2004 e com acessibilidade cultural desde 2008. Foi professor-tutor do bacharelado em Letras-Libras da UFSC (2008-2012), consultor da Unesco (2013-2014), Coordenador-Geral do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (2015-2016) e professor adjunto do Centro Universitário de Brasília (2017-2022). Atua na Sinal de Afeto desde 2019, e de forma exclusiva desde 2022. Tem experiência com tradução e interpretação de Libras, audiodescrição e formação de tradutores visuais.

Alice Lira 

Maranhense, fotógrafa plena, bacharel em Cinema e Mídias Digitais, sócio-fundadora e atual diretora executiva da produtora independente Cinese Audiovisual. Iniciou sua carreira como fotógrafa de espetáculos teatrais e projetos culturais em 2010 e migrou aos poucos para o Audiovisual, onde atua desde 2014, mesmo ano em que ingressa na graduação e funda a Cinese, junto com LeoMon. É membro e ativista em coletivos de mulheres no audiovisual e coletivos de arte e cultura LGBTQIA +; atua em prol da democratização do acesso à sétima arte por pessoas da periferia do Distrito Federal, e está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2023 (ONU). Assina mais de 600 obras audiovisuais, dentre elas 6 filmes de curta-metragem, 130 videoclipes e 43 teasers para eventos, projetos culturais e instituições. Elabora e executa projetos socioculturais com apoio governamental desde 2019. Realiza roteiros, serviços de gravação e edição de fotos e vídeos para Cinema, Publicidade e peças audiovisuais no geral, atendendo diversos tipos de eventos sociais e projetos culturais. Também atua na área da educação, facilitando cursos livres e mentorias, ministrando palestras em escolas, universidades, projetos e instituições públicas e privadas.

LeoMon

Leonardo Monteiro, ou LeoMon, Brasiliense, de ascendência Goiana e Maranhense, é Cineasta, produtor musical, editor e técnico de som e eletrônica, assina a direção e Co- Direção de 10 curtas metragens. Desde 2009 realiza trabalhos como técnico de som de bandas e eventos culturais e possui vasta experiência em colorização, desenho de som, mixagem, masterização, produção e composição musical. Autor dos álbuns de músicas instrumentais “Músicas que eu Sempre Quis Tocar I e II”. Realizou mais de 500 vídeos de registro de eventos culturais, institucionais, publicitários, curtas e videoclipes. Elabora e gerencia projetos culturais, idealizou e coordenou os projetos: Hip Hop Na Quebrada (2022), Audiovisual Acessível, Acervo Animatógrafo e Cinema é ralação ( 2023). Em 2014, em parceria com Alice Lira fundou a Cinese Audiovisual, na qual exerce a função de Diretor e Produtor Executivo.

CINESE AUDIOVISUAL

Produtora independente, que atua no setor artístico-cultural em parcerias com pessoas, instituições públicas e privadas, artistas e autônomos de diversos segmentos culturais do Distrito Federal. Com contribuições relevantes para o reconhecimento, difusão, valorização, registro da cultura local e fortalecimento do setor audiovisual. Suas pautas estão relacionadas a democratização do acesso à sétima arte por pessoas da periferia do Distrito Federal, e está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2023 (ONU). Desde de 2010, oferece serviços em todas as etapas de produção audiovisual, além de facilitar cursos e consultorias para diversos públicos em todo Brasil, principalmente no Distrito Federal e nos estados de Goiás, Piauí, Bahia e Maranhão.

CANDIÁ PRODUÇÕES

Fundada em 2016 por Valéria Amorim, a Candiá Produções é uma agência 360° que se consolidou como referência no desenvolvimento de campanhas de comunicação e marketing para o terceiro setor. Atua em todo território nacional, prioritariamente em projetos de fomento à cultura, educação, comunicação popular, direitos humanos, equidade de gênero e meio ambiente.

PROGRAMAÇÃO

12 a 23 de junho – Período de Inscrição

03 a 05 de julho – Oficina de Audiodescrição para Audiovisual com Soraya Ferreira

10 a 12 de julho – Oficina de Janela de Libras para Audiovisual com Tabuh Tavares

17 a 19 de julho – Oficina de Legenda Descritiva com Saulo Machado

24 a 26 de julho – Oficina de Produção Audiovisual Acessível com Alice Lira e LeoMon

09 de agosto – Mostra de Resultados

FICHA TÉCNICA

Produção Executiva – LeoMon, Alice Lira e Valéria Amorim

Direção Audiovisual – LeoMon

Coordenação Artística e Roteiro – Alice Lira

Coordenação de Comunicação – Valéria Amorim (Candiá Produções)

Coordenadora pedagógica e produtora geral – Rayla Costa

Motion Designer – Vini Moreira

Designer – Miguel Haru

Direção de fotografia, Diretor Técnico de Transmissão e Filmmaker: Diego Sales
Assistente de direção: Calos Wallier
Edição: Lucas Marcelo
Finalização: Diego Sales
Estúdio: Estúdio Versailles

Trilha Sonora – Mulumba (Alisson Melo)

Soraya Ferreira Alves – Oficina de Audiodescrição

Saulo Machado – Oficina de Legenda Descritiva

Tabuh Tavares – Oficina de Libras

Cinese Audiovisual – Oficina de produção Audiovisual Acessível

Consultora de Libras – Amanda Gomes

Consultora de Audiodescrição – Viviane Santos

Alimentação – Getião

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