PopulaΓ§Γ£o vai Γ s ruas contra desmonte socioambiental promovido pelo Congresso Nacional

Mobilizadores pedem fim Γ  violΓͺncia aos indΓ­genas e ao desmonte de polΓ­ticas socioambientais

 

OrganizaΓ§Γ΅es e coletivos, povos originΓ‘rios e a populaΓ§Γ£o em geral se mobilizarΓ£o em atos em SΓ£o Paulo, Belo Horizonte e FlorianΓ³polis no dia 18, em BrasΓ­lia no dia 21 e no Rio de Janeiro no dia 23 em protesto contra as recentes ameaΓ§as socioambientais aprovadas no Congresso Nacional.

O chamado contra o β€œdesmonte socioambiental” e a decisΓ£o de ir para as ruas se deu a partir da aprovaΓ§Γ£o da Medida ProvisΓ³ria (MP) 1.150, que impacta a restauraΓ§Γ£o de florestas e abre brechas para mais desmatamento na Mata AtlΓ’ntica, do relatΓ³rio da MP 1.154 – que β€œesvazia” os MinistΓ©rios do Meio Ambiente e MudanΓ§a do Clima (MMA) e dos Povos IndΓ­genas (MPI) –, e do Projeto de Lei (PL) 490, do Marco Temporal, que ameaΓ§a a demarcaΓ§Γ£o de territΓ³rios indΓ­genas. HΓ‘ previsΓ£o de que mais mobilizaΓ§Γ΅es se espalhem por outras cidades do paΓ­s.

INFORMAÇÕES SOBRE OS ATOSΒ 

SΓ£o Paulo: Dia 18 (domingo), Γ s 15h, em frente ao MASP, na Avenida Paulista.

Belo Horizonte: Dia 18, Γ s 10h, na PraΓ§a da Liberdade.

FlorianΓ³polis: Dia 18, Γ s 15h, na cabeceira insular da ponte HercΓ­lio Luz.

BrasΓ­lia: Dia 21 (quarta-feira), no gramado em frente ao Congresso Nacional , Γ s 16h.

Rio de Janeiro: Dia 23 (sexta), Γ s 17h, na CinelΓ’ndia.

 

Fique por dentro do que estΓ‘ acontecendo

MP 1.150 e emendas

No final de marΓ§o, a Medida ProvisΓ³ria 1150, enviada pelo governo Bolsonaro, foi aprovada na CΓ’mara dos Deputados. A MP, a princΓ­pio, alterava os prazos do Programa de RegularizaΓ§Γ£o Ambiental (PRA)* do CΓ³digo Florestal e adiava, pela 6Βͺ vez, o inΓ­cio da recuperaΓ§Γ£o de Γ‘reas desmatadas ilegalmente hΓ‘ mais de 15 anos. Segundo dados do Boletim Informativo do BalanΓ§o do CΓ³digo Florestal, o texto aprovado prorroga a restauraΓ§Γ£o de 21 milhΓ΅es de hectares de Γ‘reas desmatadas ilegalmente hΓ‘ mais de 15 anos, abrindo possibilidade para que a recuperaΓ§Γ£o destas Γ‘reas nunca aconteΓ§a.

Para piorar, ao passar pela CΓ’mara dos deputados, o texto aprovado flexibilizou ainda mais a proteΓ§Γ£o ambiental: abriu brechas para o desmatamento de 26 milhΓ΅es de hectares da Mata AtlΓ’ntica. Dados recentes divulgados pela FundaΓ§Γ£o SOS Mata AtlΓ’ntica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), revelam que o bioma jΓ‘ perdeu mais de 20 mil campos de floresta no ΓΊltimo ano, analisando fragmentos maiores que 3 hectares. Se considerada uma tecnologia mais avanΓ§ada, que enxerga fragmentos menores (a partir de 0.5 hectares), a Γ‘rea desmatada foi de 75,1 mil hectares”.

O impacto da MP atingiu inclusive as cidades, sendo incluídas e aprovadas emendas que possibilitam o desmatamento em Áreas de Preservação Permanente (APPs) em beiras de rios nas cidades e que retiram a necessidade de zona de amortecimento nas Unidades de Conservação urbanas.

Quando foi para o Senado Federal, os jabutis foram impugnados e assim rejeitados. O adiamento da restauraΓ§Γ£o florestal, entretanto, foi aprovado. Voltando para votaΓ§Γ£o na CΓ’mara, os parlamentares trouxeram de volta todos os jabutis. No comeΓ§o de junho, na semana do meio ambiente, o Presidente da RepΓΊblica, LuΓ­s InΓ‘cio Lula da Silva, vetou as ameaΓ§as Γ  Mata AtlΓ’ntica, Γ s florestas de beira de rios e Γ s Unidades de ConservaΓ§Γ£o. PorΓ©m, o Congresso Nacional ainda pode derrubar o veto.

 

RelatΓ³rio da MP 1.154

A MP 1.154 Γ© a medida provisΓ³ria, aprovada na primeira semana do Governo Lula, que reestruturou os ministΓ©rios para como sΓ£o hoje. Com a nova estrutura, o Cadastro Ambiental Rural (CAR)*, que havia sido transferido para o MinistΓ©rio da Agricultura e PecuΓ‘ria no Governo anterior, voltou para atribuiΓ§Γ£o do MMA. A medida tambΓ©m criou o MinistΓ©rio dos Povos IndΓ­genas.

O relatΓ³rio da MP, porΓ©m, de autoria do Deputado Federal Isnaldo BulhΓ΅es Jr. (MBD-AL), alterou o texto base, β€œesvaziando” algumas atribuiΓ§Γ΅es que hoje sΓ£o de responsabilidade dos MinistΓ©rios do Meio Ambiente e MudanΓ§a do Clima (MMA) e dos Povos IndΓ­genas (MPI).

Do MinistΓ©rio do Meio Ambiente foi transferida a gestΓ£o do CAR, ferramenta de monitoramento e fiscalizaΓ§Γ£o de desmatamento nos imΓ³veis rurais de todo paΓ­s, para o MinistΓ©rio da GestΓ£o e InovaΓ§Γ£o em ServiΓ§os PΓΊblicos.

A AgΓͺncia Nacional de Águas (ANA), que faz a gestΓ£o dos mananciais de Γ‘gua do paΓ­s, tambΓ©m foi retirada do MinistΓ©rio do Meio Ambiente, sendo transferida para o MinistΓ©rio da IntegraΓ§Γ£o e Desenvolvimento Regional (MIDR). No governo Bolsonaro, a ANA esteve dentro deste ministΓ©rio.

O novo texto retira, ainda, a responsabilidade de reconhecimento e demarcaΓ§Γ£o de terras indΓ­genas do MPI e a transfere para o MinistΓ©rio da JustiΓ§a. A Ministra SΓ΄nia Guajajara criticou os retrocessos em andamento contra os povos indΓ­genas. β€œTodo mundo lembra da campanha do presidente Lula que trouxe a pauta indΓ­gena para o centro de sua campanha eleitoral, assumindo o compromisso de retomar os processos de demarcaΓ§Γ£o das terras indΓ­genas. Foi nesta perspectiva que foi criado o MinistΓ©rio dos Povos IndΓ­genas. E agora nΓ³s vemos este Congresso promovendo um verdadeiro ataque a este ministΓ©rio, num paΓ­s que levou 523 anos para reconhecer a importΓ’ncia dos povos indΓ­genas e menos de cinco meses para tentar nos calar e tutelar novamente”.

Em maio deste ano, 790 organizaΓ§Γ΅es assinaram um manifesto contra o β€œesvaziamento” dos ministΓ©rios, que solicita a correΓ§Γ£o de alguns pontos em relaΓ§Γ£o Γ s polΓ­ticas socioambientais.

Marco Temporal

No mesmo perΓ­odo, a CΓ’mara dos Deputados aprovou – por 283 votos a favor e 155 contra – o Projeto de Lei 490, conhecido como PL do Marco Temporal. A proposta defende uma tese que restringiria demarcaΓ§Γ΅es de Terras IndΓ­genas (TIs) apenas Γ s Γ‘reas em que comunidades originΓ‘rias jΓ‘ vivessem ou disputassem atΓ© outubro de 1988. PorΓ©m, de acordo com Simone Nacif, porta-voz da AssociaΓ§Γ£o JuΓ­zas e JuΓ­zes para a Democracia (AJD) em entrevista ao jornal DW, o projeto votado ignora as injustiΓ§as histΓ³ricas sofridas pelos povos indΓ­genas, que foram expulsos de suas terras como parte da polΓ­tica de Estado, principalmente na Ditadura Militar. ApΓ³s terem sido expulsos por sΓ©culos de perseguiΓ§Γ£o, desde que o Brasil foi ocupado, estes povos tambΓ©m nΓ£o tiveram a oportunidade de reivindicar formalmente o reconhecimento das suas terras. AlΓ©m disso, os povos indΓ­genas seguem ameaΓ§ados pela degradaΓ§Γ£o ambiental e pela violΓͺncia do garimpo, de empreendimentos imobiliΓ‘rios e da agropecuΓ‘ria.

Agora, o PL segue para votaΓ§Γ£o no Senado Federal, sob o nΓΊmero 2903/2023.

A tese do Marco Temporal tambΓ©m estΓ‘ em discussΓ£o no Supremo Tribunal Federal (STF). A votaΓ§Γ£o foi retomada na ΓΊltima quarta-feira (07), mas foi suspensa apΓ³s um pedido de vista do Ministro AndrΓ© MendonΓ§a, tendo um prazo de atΓ© 90 dias para ser retomada a votaΓ§Γ£o.

AlΓ©m dessas, outras propostas legislativas avanΓ§am no Congresso, como o PL 1.282/2019. O projeto que ficou conhecido como β€œPL da IrrigaΓ§Γ£o” altera o CΓ³digo Florestal para permitir o desmatamento de florestas em beiras de rios para uso do agronegΓ³cio. Sob a justificativa de utilidade pΓΊblica, potencializa a crise hΓ­drica e o conflito pela Γ‘gua no paΓ­s.

*O PRA Γ© o maior programa de restauraΓ§Γ£o ambiental do Brasil. O Programa de RegularizaΓ§Γ£o Ambiental Γ© um conjunto de aΓ§Γ΅es a serem desenvolvidas por proprietΓ‘rios e posseiros rurais com o objetivo de adequar e regularizar o imΓ³vel que possui Γ‘reas desmatadas sem estar em conformidade com a Lei antes de 02 de julho de 2008. A regularizaΓ§Γ£o pode ser feita por meio da recuperaΓ§Γ£o ou compensaΓ§Γ£o de Γ‘reas de preservaΓ§Γ£o permanente ou reservas legais.

Com a alteraΓ§Γ£o proposta, o prazo para se inscrever no CAR e acessar os benefΓ­cios do PRA, foram estendidos. O processo de adesΓ£o ao PRA nΓ£o terΓ‘ mais prazo determinado para acontecer, o que se darΓ‘ somente apΓ³s a anΓ‘lise do CAR, e um ano da convocaΓ§Γ£o do produtor rural.

* O CAR Γ© um registro pΓΊblico eletrΓ΄nico nacional, obrigatΓ³rio para todos os imΓ³veis rurais, com a finalidade de integrar as informaΓ§Γ΅es ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econΓ΄mico e combate ao desmatamento.

Veja tambΓ©m